Qual é a sua responsabilidade pelo que te acontece?

Contextos moldam a vida, mas suas escolhas também mudam o caminho.

Olá, pessoal!

Hoje quero conversar sobre uma coisa que, vez ou outra, todos nós pensamos: afinal, o que está sob o nosso controle? O quanto a gente é responsável pelo que acontece na nossa vida?
Spoiler: a resposta é nem tanto, mas também não tão pouco quanto às vezes parece.

Somos resultado do contexto? Sim. Mas não só isso.

A psicologia científica há muito tempo estuda o quanto nosso comportamento, emoções e pensamentos são moldados por fatores que estão fora do nosso controle:

  • Contexto social e econômico em que nascemos e vivemos;
  • Eventos de vida (traumas, perdas, conquistas);
  • Fatores genéticos e biológicos que influenciam desde nossa personalidade até nossa tendência a desenvolver certas doenças mentais.

A Teoria da Aprendizagem, por exemplo, mostra como nossos comportamentos são modelados pelas consequências que enfrentamos. Se fomos punidos por expressar emoções, aprendemos a calar. Se fomos recompensados por agradar os outros, aprendemos a nos anular.
A neurociência também confirma que traumas, estresse crônico e até a pobreza modificam o cérebro, impactando nossa capacidade de regular emoções, tomar decisões e nos motivar.

Ou seja: não somos culpados pelo contexto em que crescemos e pelas coisas que nos aconteceram. E fingir que “basta querer” para mudar é ignorar uma parte enorme dessa história.

Mas também não somos 100% reféns do que nos acontece.

Por mais que o contexto e nossa história tenham peso, há algo que só a gente pode fazer: escolher o que fazer a partir de agora.

E isso não é papo motivacional vazio. É ciência.
Por exemplo:

  • Estudos mostram que estratégias de enfrentamento ativas (como buscar ajuda, aprender novas habilidades, se expor a situações difíceis de forma controlada) são mais eficazes do que evitar o problema (Carver & Connor-Smith, 2010).
  • A psicoterapia baseada em evidências, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), ensina justamente a diferenciar o que está sob nosso controle e o que não está — e a agir sobre o que é possível.
  • A teoria da autodeterminação (Deci & Ryan, 2000) mostra que ter um senso de agência (sentir que pode escolher e agir) é essencial para o bem-estar.

Então, sim: o mundo pesa, mas nossos passos ainda contam.

O problema de esperar o mundo mudar (ou que as coisas fiquem “perfeitas” para agir)

É muito comum ouvir (ou dizer):

“Eu só vou mudar quando isso ou aquilo acontecer.”
“Eu só vou conseguir quando minha ansiedade sumir.”
“Não dá pra fazer nada enquanto a situação for essa.”

Mas o que a gente sabe é que se a gente espera o contexto mudar para mudar, talvez a mudança nunca venha.
Por exemplo, se eu espero a depressão sumir para começar a sair de casa, ela pode não sumir nunca — é o sair de casa, mesmo sem vontade, que começa a gerar mudança.
Se eu espero que minha família me apoie para buscar terapia, talvez eu nunca busque.

Ou seja: agir mesmo sem “sentir vontade” ou “ter todas as condições ideais” é o que, muitas vezes, começa o processo de transformação (isso é um princípio da Terapia de Aceitação e Compromisso, por exemplo).

Mas Gustavo, é fácil? Claro que não.

Aqui eu preciso ser honesto: não é fácil mesmo.
Se fosse, a gente não teria tantas pessoas sofrendo com ansiedade, depressão, compulsões, burnout, dificuldades de relacionamento, etc.
Por isso, ninguém precisa passar por isso sozinho — buscar ajuda profissional (psicoterapia, psiquiatria, grupos de apoio) é um dos maiores atos de coragem e responsabilidade que você pode ter.

E é disso que quero falar: responsabilidade não é culpa.
Responsabilidade é reconhecer o que você pode fazer, dentro do que é possível hoje pra você.
Talvez hoje o possível não seja resolver tudo. Talvez seja só dar um passo. E esse passo já é importante.

Então, o que está sob o seu controle?

A gente não controla o que os outros fazem.
A gente não controla o governo, o mercado, a genética, o clima.
Mas a gente ainda controla algumas coisas, pequenas, que ao longo do tempo viram grandes:

  • Decidir buscar ajuda.
  • Decidir falar sobre o que sente.
  • Decidir tentar um novo jeito de lidar com o problema.
  • Decidir cuidar do corpo (com sono, comida, movimento).
  • Decidir dizer “não” quando necessário.
  • Decidir praticar compaixão consigo mesmo.

Como disse Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente de campos de concentração nazistas:

“Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.”

Mas de novo: não é uma cobrança, é um convite.
Se ninguém te disse isso ainda: você não está sozinho, mas só você pode dar o primeiro passo por você.

Resumo: o mundo pesa, mas seus passos contam

Então, amigo, amiga, não tô aqui pra dar bronca. Tô aqui pra dizer:

  • Você não controla tudo.
  • Mas tem coisas que você pode escolher.
  • E escolher agir, mesmo com medo ou tristeza, é um baita ato de força.

E se precisar de um empurrãozinho, terapia tá aí pra isso.
Mas mesmo antes da terapia, você já pode começar a pensar: qual é o menor passo que eu posso dar hoje?

Talvez seja só reconhecer: eu preciso de ajuda. E isso já é um baita começo.

Se você leu até aqui, obrigado. Cuida de você. E se quiser, me conta: qual pequeno passo você sente que pode dar?

Abraço,
Psicólogo Gustavo Henrique Ferreira.

Este artigo foi escrito por:

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Gustavo Henrique

Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Gustavo Henrique | Psicólogo Clínico CRP 08/32842

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