Assim como toda pergunta que se faz ao seu advogado ou ao seu psicólogo, a resposta sempre será: depende. Depende de vários fatores, como se há ambiente para essa mudança, se essa mudança depende de mim ou dos outros, e para qual direção devo mudar se não sei para onde vou? E será que vale mesmo a pena mudar?
Existem algumas coisas que dá para levar em consideração ao nos fazer essa pergunta. A primeira delas é: 1) Tenho mais emoções relacionadas ao bem-estar e felicidade onde estou, ou estou sofrendo?; 2) Estou fazendo isso por mim ou para agradar as pessoas ao meu redor?; 3) As pessoas ao meu redor estão sofrendo ou minimamente incomodadas com meu jeito de ser?; 4) Será que quero essas pessoas perto de mim?; 5) Meu modo de agir me faz sofrer?
Sei que parte dessas perguntas é muito ampla e pode ser respondida de diversas formas. Mas, assim como falo para meus pacientes, a resposta não precisa estar certa ou errada; é como um nó. Nós só precisamos de uma parte desse nó para começar a desfazê-lo.
Uma coisa que costumo fazer é sempre me voltar aos meus valores, avaliá-los e reavaliá-los, para saber se estou sendo a pessoa que gostaria de ser. Isso envolve também as pessoas com quem quero me relacionar. Além disso, observo minhas crenças e as questiono, para saber se elas resistem aos meus questionamentos. É quase como um processo científico: criamos uma hipótese, uma teoria, e a submetemos a uma banca avaliativa para ver o que pode ser melhorado ou descartado.
Parte do que fazemos em terapia envolve esse processo de reavaliar o caminho que estamos trilhando. Isso exige humildade para refutar até mesmo as crenças mais importantes, como o modo como me vejo e vejo o mundo. Por incrível que pareça, isso envolve até olhar para gostos musicais, hábitos, hobbies, etc. Tudo está atrelado à forma como você age no mundo, e essas crenças e valores têm um papel importante.
Mas a questão é: será que vale a pena mudar? Talvez a resposta mais próxima, em vez do “depende”, seja que vale a pena experimentar e testar. Se essa mudança resultar em mais sofrimento, talvez: 1) você precise de mais ajuda e não consiga sozinho (e está tudo bem, você não será mais fraco se precisar de ajuda para a mudança); 2) talvez valha a pena parar, dar um passo para trás e reavaliar nosso plano de ação.
E quando falo sobre valores, te garanto que não é no sentido monetário da coisa. Para as terapias cognitivas e comportamentais, valores são como aquela bússola interna que te mantém no caminho certo, só que com um toque de estilo! Eles não são sentimentos passageiros, nem algo que os outros podem te dar, e muito menos uma lista de tarefas para riscar. Valores são as coisas que você realmente quer ser e fazer na vida, como ser gentil, corajoso ou o mestre das piadas ruins. Eles te guiam continuamente, como um GPS que nunca diz “chegou”, porque viver seus valores é um processo sem fim. É a jornada, não o destino, que importa – e, de preferência, uma jornada cheia de momentos divertidos!
Por exemplo, imagine que seus valores sejam como um GPS interno que te guia pela vida, mas que as vezes pode te levar algumas rotas erradas, se você não prestar atenção para onde esta indo! O primeiro caminho errado que se pode tomar é: valores não são sentimentos. Se você acha que “sentir-se calmo” é um valor, cuidado! Isso é como tentar guiar sua vida com um GPS que só quer te levar para um spa. Pergunte-se: “Se eu estivesse calmo, o que eu faria que não estou fazendo agora?” Spoiler: evitar sentimentos ruins pode te deixar preso em um loop infinito de não fazer nada importante.
O segundo caminho errado: valores não são sobre o que os outros fazem por você. Então, se seu “valor” é ser amado, respeitado ou ser o rei (ou rainha) do camarote, isso é basicamente dar seu GPS para outra pessoa programar. Os valores são sobre como você escolhe agir, como ser honesto, compassivo ou dançar como se ninguém estivesse olhando – não importa se estão.
O terceiro caminho errado: valores não são checklists. Se você acha que valores são como uma lista de tarefas, tipo “comprar flores para o parceiro” ou “tirar o diploma”, saiba que, uma vez concluída a tarefa, o movimento valoroso não pode parar! O GPS dos valores não diz “Você chegou ao seu destino”. Então, continue no caminho – hoje você dá flores, amanhã faz um jantar, e assim vai. Ser um cônjuge amoroso, por exemplo, é como uma assinatura vitalícia que nunca expira!
Em resumo, a questão de mudar ou não é profundamente pessoal e multifacetada. A resposta, como vimos, raramente é um simples “sim” ou “não”, e mais frequentemente envolve uma exploração cuidadosa de nossos valores, emoções e o impacto que nossas ações têm em nós e nas pessoas ao nosso redor. A mudança, por si só, não é um destino final, mas uma jornada contínua que exige autoconhecimento e coragem para testar novas direções. Avaliar nossos valores, desafiar nossas crenças e manter a flexibilidade ao longo do caminho nos permite ajustar nosso curso sempre que necessário, lembrando que a verdadeira força está, muitas vezes, em buscar ajuda quando precisamos. Assim, a melhor resposta pode ser: vale a pena experimentar, pois, mesmo quando a mudança traz desafios, ela pode ser a chave para um crescimento significativo e autêntico.