O dia em que o “felizes para sempre” encontrou o boleto de luz
Posso te contar uma coisa? Eu achava que, quando crescesse, ia ter tudo sob controle. Tipo: acordar cedo sem drama, tomar café olhando o horizonte, trabalhar feliz e ainda ter tempo pra maratonar série. A vida adulta, na minha cabeça, era um filme organizado, com trilha sonora bonita e roteiro coerente.
Aí eu cresci.
E descobri que a vida adulta é, na verdade, uma mistura de “o que tem pra hoje?” com “onde foi que eu coloquei aquela conta pra pagar?”. Não é ruim, só é… diferente do que eu imaginava.
A psicologia chama isso de reestruturação cognitiva natural: com o tempo e a experiência, a gente ajusta o enredo pra combinar com o mundo real. É como se o cérebro dissesse: “Olha, essa parte aqui do script não faz sentido, vamos reescrever?”.
A neurociência explica que até uns 25 anos o nosso córtex pré-frontal ainda está amadurecendo — e é justamente essa parte do cérebro que ajuda a tomar decisões, planejar e lidar com frustrações. Ou seja: a gente entra na vida adulta já com boleto na mão, mas ainda aprendendo a como lidar com ele emocionalmente.
E aqui vem o ponto mais interessante: perder ilusões não significa perder a graça da vida. Pelo contrário. Quando as fantasias caem, sobra espaço pra presença. Menos “quando eu tiver tudo perfeito, aí vou aproveitar” e mais “o que dá pra fazer de bom agora, mesmo com esse caos em volta?”.
Terapias como a TCC e o mindfulness trabalham exatamente isso: a habilidade de separar o que é só pensamento automático do que realmente está acontecendo, e agir a partir daí.
No fim, crescer não é sobre controlar todos os capítulos da história. É sobre aprender a viver no meio do improviso — e até rir dele. É sobre tomar café enquanto o dragão resmunga no canto, e talvez até convidá-lo pra contar sua versão da história.
E, quer saber? Esse “roteiro bagunçado” tem uma beleza própria.
“Entre ilusões e presenças, seguimos escrevendo a vida como ela é.”
— Psicólogo Gustavo Henrique