A Psicologia do Perdão: Por que Esperar pelo Outro Adoece?

O perdão como um ato unilateral de libertação interna e regulação emocional.

Em nossa jornada terapêutica e em nossas relações, frequentemente nos deparamos com o profundo desejo de que o outro reconheça o mal que causou. Esperamos um pedido de desculpas, um sinal de arrependimento, uma validação externa de que nossa dor é legítima. No entanto, a psicologia clínica nos mostra um perigo claro nessa espera: E se isso nunca acontecer?

Condicionar nossa recuperação emocional a uma ação que está fora do nosso controle é, em essência, entregar nosso bem-estar nas mãos de outra pessoa. É prender-se a uma expectativa que pode jamais ser concretizada, mantendo-nos acorrentados ao passado e ao sofrimento.

O Custo da Ruminação: Segurando o Carvão em Brasa

Manter o rancor e a mágoa ativos exige um custo psicológico imenso. Na psicologia, o ato de remoer incessantemente uma ofensa é chamado de ruminação. Este processo mental não só falha em resolver o problema, como comprovadamente amplifica o sofrimento.

Existe uma poderosa metáfora para isso: agarrar-se ao rancor é como segurar um carvão em brasa com a intenção de atirá-lo em alguém. No fim, quem se queima de forma contínua e profunda é, primariamente, quem o segura. A ruminação crônica está diretamente correlacionada a níveis mais altos de estresse, ansiedade e sintomas depressivos. O sofrimento não acaba porque continuamos “segurando”.

O Perdão como Decisão Unilateral

Aqui, é crucial redefinir o que o perdão significa do ponto de vista psicológico. O perdão verdadeiro, no sentido terapêutico, é um processo unilateral.

Ele não depende, em hipótese alguma, do arrependimento alheio, da confissão ou do pedido de desculpas do ofensor.

Perdoar não é absolver o outro de sua responsabilidade. Não é esquecer, não é minimizar a dor e, certamente, não é uma obrigação de reconciliação.

O perdão é, fundamentalmente, um ato de libertação interna.

Trata-se de uma decisão consciente de soltar o “carvão em brasa”. É a escolha de transferir o locus de controle de volta para si mesmo, decidindo ativamente parar de sofrer por aquela questão. A paz que buscamos não vem da validação externa (o pedido de perdão), mas da decisão interna de não permitir mais que o evento passado dite nosso estado emocional presente.

Em suma, o sofrimento só termina quando você solta. A escolha de perdoar é, talvez, o ato mais potente de autonomia emocional: é a decisão de se libertar, independentemente do que o outro faça ou deixe de fazer.

— Psicólogo Gustavo Henrique

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Gustavo Henrique

Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Gustavo Henrique | Psicólogo Clínico CRP 08/32842

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