O perdão como um ato unilateral de libertação interna e regulação emocional.
Em nossa jornada terapêutica e em nossas relações, frequentemente nos deparamos com o profundo desejo de que o outro reconheça o mal que causou. Esperamos um pedido de desculpas, um sinal de arrependimento, uma validação externa de que nossa dor é legítima. No entanto, a psicologia clínica nos mostra um perigo claro nessa espera: E se isso nunca acontecer?
Condicionar nossa recuperação emocional a uma ação que está fora do nosso controle é, em essência, entregar nosso bem-estar nas mãos de outra pessoa. É prender-se a uma expectativa que pode jamais ser concretizada, mantendo-nos acorrentados ao passado e ao sofrimento.
O Custo da Ruminação: Segurando o Carvão em Brasa
Manter o rancor e a mágoa ativos exige um custo psicológico imenso. Na psicologia, o ato de remoer incessantemente uma ofensa é chamado de ruminação. Este processo mental não só falha em resolver o problema, como comprovadamente amplifica o sofrimento.
Existe uma poderosa metáfora para isso: agarrar-se ao rancor é como segurar um carvão em brasa com a intenção de atirá-lo em alguém. No fim, quem se queima de forma contínua e profunda é, primariamente, quem o segura. A ruminação crônica está diretamente correlacionada a níveis mais altos de estresse, ansiedade e sintomas depressivos. O sofrimento não acaba porque continuamos “segurando”.
O Perdão como Decisão Unilateral
Aqui, é crucial redefinir o que o perdão significa do ponto de vista psicológico. O perdão verdadeiro, no sentido terapêutico, é um processo unilateral.
Ele não depende, em hipótese alguma, do arrependimento alheio, da confissão ou do pedido de desculpas do ofensor.
Perdoar não é absolver o outro de sua responsabilidade. Não é esquecer, não é minimizar a dor e, certamente, não é uma obrigação de reconciliação.
O perdão é, fundamentalmente, um ato de libertação interna.
Trata-se de uma decisão consciente de soltar o “carvão em brasa”. É a escolha de transferir o locus de controle de volta para si mesmo, decidindo ativamente parar de sofrer por aquela questão. A paz que buscamos não vem da validação externa (o pedido de perdão), mas da decisão interna de não permitir mais que o evento passado dite nosso estado emocional presente.
Em suma, o sofrimento só termina quando você solta. A escolha de perdoar é, talvez, o ato mais potente de autonomia emocional: é a decisão de se libertar, independentemente do que o outro faça ou deixe de fazer.
— Psicólogo Gustavo Henrique