Propósito não é boleto

A diferença entre viver com sentido e viver sob cobrança (inclusive a interna)

Se você já acordou numa terça-feira qualquer com a sensação de que deveria estar “cumprindo seu propósito de vida”, parabéns: você foi vítima de uma ideia mal explicada.

Hoje em dia, propósito virou quase um item de produtividade. Algo que você precisa encontrar, definir, postar no Instagram e, se possível, monetizar. Se não achou ainda, parece que está atrasado na corrida da vida. Como se todo mundo tivesse recebido um e-mail com o assunto: “Seu propósito – prazo final: ontem”.

Mas, do ponto de vista da psicologia científica, essa confusão é bem clara: propósito e pressão não são a mesma coisa, embora vivam sendo tratados como se fossem.

Pressão funciona no modo ameaça. Ela vem carregada de “tenho que”, “já era pra”, “não posso falhar”. É barulhenta, ansiosa e costuma usar comparações como combustível.
Propósito, por outro lado, funciona no modo valor. Ele não grita, não empurra, não humilha. Ele puxa. Dá direção, não chicotada.

O problema é que muita gente chama de propósito aquilo que, na prática, é só medo de não ser suficiente.

Na clínica, isso aparece o tempo todo: pessoas esgotadas tentando “se encontrar”, quando, na verdade, estão tentando atender expectativas que nem sabem mais de quem são. E aí o autoconhecimento vira um interrogatório interno, não uma exploração.

Autoconhecimento, na psicologia baseada em evidências, não é descobrir uma essência mágica escondida dentro de você. É algo bem menos glamouroso — e bem mais útil:
é observar padrões, entender o que te move, o que te trava, o que faz sua vida ficar um pouco mais coerente com aquilo que você valoriza.

Propósito não precisa ser grandioso. Não precisa salvar o mundo. Às vezes, ele só precisa fazer sentido para você e ser sustentável na vida real — com boletos, cansaço e segundas-feiras.

Se pensar em propósito te deixa mais ansioso do que orientado, talvez não seja propósito. Talvez seja só pressão disfarçada de frase motivacional.

E, convenhamos, ninguém precisa de mais cobrança fingindo ser iluminação.

Gustavo Henrique
Psicólogo clínico
Psicologia baseada em evidências

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Gustavo Henrique

Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Gustavo Henrique | Psicólogo Clínico CRP 08/32842

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