Adolescência: A dor do crescimento e a psicologia por trás da série da Netflix

Por Que “Adolescência” é um Alerta para a Saúde Mental Juvenil?

Desde o primeiro episódio, “Adolescência” me prendeu completamente, e ao longo da série, fui anotando os pontos que mais me impactaram. A nova minissérie da Netflix vem gerando muitas discussões, e não é à toa. Com uma narrativa envolvente e atuações marcantes, a obra mergulha fundo em temas essenciais como o desenvolvimento dos adolescentes, a influência das redes sociais e o impacto das experiências escolares na formação da identidade. Entre tantos aspectos relevantes, um dos maiores acertos da série é a representação da psicóloga, cuja abordagem baseada em evidências merece ser destacada.

A psicóloga da série: um retrato fiel e competente da prática clínica

Interpretada de maneira brilhante por Erin Doherty, a psicóloga que acompanha o protagonista Jamie é uma das representações mais autênticas da clínica psicológica que já vimos em uma produção de grande público. Diferente das caricaturas comuns da profissão, sua personagem adota uma abordagem que mistura elementos da terapia cognitivo-comportamental (TCC) e da análise funcional do comportamento, trazendo questionamentos profundos sobre os processos cognitivos e emocionais de um adolescente que enfrenta bullying, alienação social e influências externas nocivas.

O impacto do bullying e os perigos do discurso redpill

A série também escancara o impacto do bullying na vida dos adolescentes, mostrando como a rejeição e a humilhação constantes podem levar a sentimentos de isolamento e revolta. Além disso, “Adolescência” aborda de maneira crítica a influência de discursos de ódio, como os promovidos por comunidades redpill, que reforçam ideias misóginas e a vitimização dos jovens homens, levando a comportamentos de extrema agressividade. Esse tipo de ideologia pode reforçar padrões de pensamento distorcidos e potencializar a radicalização de jovens vulneráveis, algo que a psicologia já vem estudando com preocupação.

O sofrimento dos pais e o impacto na dinâmica familiar

Outro aspecto poderoso da série é como ela retrata o sofrimento dos pais após o crime cometido pelo filho. A culpa, a vergonha e a dor de lidar com um evento tão traumático afetam profundamente a dinâmica familiar. A psicologia nos mostra que pais que passam por experiências assim frequentemente oscilam entre a negação e o sentimento de responsabilidade, buscando respostas para algo que muitas vezes foge do seu controle. O impacto emocional pode levar a depressão, ansiedade e uma desestruturação das relações familiares, algo que “Adolescência” captura com muita sensibilidade.

Cuidados com adolescentes: como identificar sinais de sofrimento

Diante de tantos desafios na adolescência, é essencial que pais, professores e profissionais da saúde mental estejam atentos aos sinais de sofrimento emocional. Mudanças drásticas no comportamento, isolamento, agressividade repentina e discurso extremista podem ser indicativos de que algo está errado. A intervenção precoce e o diálogo aberto são fundamentais para prevenir que esses jovens se envolvam em situações perigosas ou que acabem reproduzindo padrões nocivos de pensamento e comportamento.

Conclusão

Mais do que um suspense instigante, “Adolescência” é uma obra que coloca a psicologia baseada em evidências no centro da discussão sobre saúde mental juvenil. A atuação da psicóloga da série merece ser elogiada não apenas por sua autenticidade, mas pelo impacto que pode ter ao desmistificar o papel da terapia psicológica. Além disso, a série abre espaço para reflexões urgentes sobre bullying, influências ideológicas destrutivas e o impacto emocional de situações traumáticas na família. Se você ainda não assistiu, prepare-se para uma experiência emocionalmente intensa e cientificamente relevante.

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Gustavo Henrique

Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Gustavo Henrique | Psicólogo Clínico CRP 08/32842

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