Ainda Estou Aqui: As Marcas da Ditadura na Psicologia Humana

As cicatrizes psicológicas de um dos momentos mais sombrios da história do Brasil

Recentemente, assisti ao filme Ainda Estou Aqui. Além de ser um filme incrível, ele é pesado e impactante, principalmente quando a gente reflete sobre o sofrimento das pessoas que viveram naquele momento. A história é um soco no estômago e nos faz lembrar que o passado não está tão distante assim. E, olha só, já fazem 40 anos desde o fim da Ditadura Militar no Brasil. Quarenta anos! Parece muito, mas as cicatrizes desse período ainda estão vivas em muitas pessoas.

Por isso, quero aproveitar para falar um pouco sobre as consequências psicológicas que marcaram quem enfrentou essa época sombria da nossa história. O impacto emocional e mental foi (e continua sendo) profundo. É um tema sério, mas que precisa ser discutido, porque as feridas invisíveis também contam a história do que aconteceu.

As Consequências Psicológicas da Ditadura Militar no Brasil: Uma Ferida que Ainda Dói

Quarenta anos se passaram desde o fim da Ditadura Militar no Brasil, mas quem viveu esse período sombrio sabe que não dá pra virar a página sem olhar para as marcas que ele deixou. Não estamos falando só das cicatrizes físicas da tortura e da repressão, mas também das feridas emocionais e psicológicas que ainda impactam a vida de muita gente. E, acredite, tem muita ciência pra explicar isso.

O Trauma que Não Vai Embora

Pra quem foi torturado ou sofreu abusos naquela época, o trauma se transformou em uma companhia constante. Estudos mostram que muitas dessas pessoas desenvolvem Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que é aquela sensação de viver em um eterno déjà vu do horror. Flashbacks, pesadelos e uma ansiedade que nunca dá trégua são sintomas bem comuns. Além disso, a sensação de estar em perigo o tempo todo deixa a pessoa exausta, como se vivesse no “modo sobrevivência”.

E não foi só quem estava nas celas ou nos porões da repressão que sofreu. Os familiares de presos políticos, desaparecidos e exilados também carregam essa dor. A incerteza sobre se um filho ou marido ainda estava vivo criava um luto sem fim, algo que a psicologia chama de luto ambíguo. É uma dor que não cicatriza, porque nunca houve uma resposta completa — exatamente o que a maioria dos personagens do filme Ainda Estou Aqui vivencia.”

Tortura Psicológica: A Arma Invisível

A violência física era brutal, mas a tortura psicológica era tão devastadora quanto. O isolamento, as ameaças constantes, a privação sensorial e até falsas promessas de liberdade foram estratégias usadas para quebrar as pessoas por dentro. Isso resultava em ansiedade crônicatranstornos depressivos, e até transtornos dissociativos, onde a mente da pessoa tenta “se desligar” para não lidar com o sofrimento.

O impacto de ouvir que sua vida ou a de sua família estava nas mãos do torturador é algo que deixou marcas profundas em quem sobreviveu. E o pior: muitas dessas pessoas nunca conseguiram falar abertamente sobre o que passaram, porque durante anos o assunto foi abafado pela sociedade.

Exílio: Quando a Saudade É Outra Forma de Trauma

Pra quem foi exilado, a dor veio de outro jeito. Ser forçado a abandonar sua casa, amigos e tudo o que te conecta às suas raízes é algo que gera um impacto imenso. Pesquisas mostram que muitos exilados enfrentaram depressão, além de uma sensação de alienação, como se nunca mais tivessem conseguido pertencer totalmente a lugar nenhum.

O retorno, depois da anistia, também não foi fácil. Muitos voltaram pra um Brasil que já não era o mesmo — ou, pior, descobriram que as pessoas que ficaram haviam seguido em frente sem eles. Esse sentimento de deslocamento, de estar “entre mundos”, é mais uma camada de sofrimento psicológico que marca essas trajetórias.

O Peso que Passa de Geração em Geração

E tem mais: o trauma da ditadura não ficou restrito à geração que viveu aquilo. Estudos sobre trauma intergeracional mostram que filhos e netos de vítimas também sofrem os impactos. Muitas famílias carregam silêncios que nunca foram quebrados. E esse “não dito” gera tensões, inseguranças e até dificuldades emocionais que parecem não ter explicação direta, mas estão ligadas a esse passado sombrio.

O Silêncio como Forma de Sofrimento

Por muito tempo, quem sofreu na ditadura teve que engolir o que passou. O Brasil não teve um processo amplo de reparação e justiça como outros países que enfrentaram regimes autoritários, e isso deixou muita gente com um gosto amargo de injustiça. Esse silenciamento é um peso psicológico enorme, porque impede o fechamento necessário para processar o trauma.

Mas E a Resiliência?

Apesar de tudo isso, é importante lembrar que muitos sobreviventes conseguiram se reconstruir. Redes de apoio, movimentos por memória e verdade, e a busca por justiça ajudaram a aliviar, pelo menos em parte, o peso de tudo isso. A resiliência dessas pessoas é uma prova de força diante do que parecia insuportável.

Por que Falar Sobre Isso?

Falar sobre as consequências psicológicas da ditadura não é só olhar para o passado — é um jeito de garantir que a gente não repita os mesmos erros no futuro. É um lembrete de que regimes autoritários não destroem apenas corpos, mas também mentes, famílias e gerações inteiras. E, enquanto essas feridas não forem totalmente reconhecidas e tratadas, elas vão continuar abertas, pedindo por justiça e por memória.

Afinal, como dizem, quem esquece o passado está condenado a repeti-lo. E ninguém quer que essas sombras voltem a nos assombrar.

Este artigo foi escrito por:

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Gustavo Henrique

Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Gustavo Henrique | Psicólogo Clínico CRP 08/32842

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