Porque ser esquisito é, na verdade, uma forma de liberdade
Durante uma conversa com um amigo meu no Discord às três horas da manhã — aquele horário onde o aplicativo parece se transformar na antiga Ágora de Atenas, reunindo os grandes filósofos da madrugada para debater suas ideias — discutíamos sobre nossos comportamentos. Digo por mim e também um pouco por ele que nunca nos encaixamos no modelo de jovem adulto padrão. Sabe aquele tipo que segue a moda, acompanha todas as tendências do momento e, ao mesmo tempo, tem a personalidade de um papel sulfite? Pois é.
Falávamos sobre essa constante cobrança que sentimos: a necessidade de nos encaixar, de frequentar determinados lugares, de agir de um jeito específico para sermos aceitos, seja em amizades ou em relacionamentos. Mas será que precisamos mesmo disso? Será que eu não posso simplesmente ser “esquisito” e está tudo bem?
Ser esquisito sempre foi uma pedra no meu sapato. Nunca consegui me encaixar em grupos sociais, vestir-me de uma maneira específica ou escutar as músicas que todo mundo ouvia. Sempre fui o famoso nerd/geek, só que, no ensino médio, eu não era um bom aluno. Foi só mais tarde que me engajei nos estudos e me tornei um nerd/geek completo. Sempre curti metal extremo, fui cabeludo e magro — ou seja, definitivamente não era um colírio da Capricho (só os millennials entenderão essa referência).
E o que eu mais ouvia? Frases como: “Você é legal, mas você é esquisito”, ou “Nossa, mas você vai sair com o Gustavo? Acho ele tão estranho”. Comentários super acolhedores que, com certeza, ajudaram muito minha autoestima na adolescência (contém ironia).
O tempo passou, mas percebi que, mesmo na vida adulta, esse tipo de coisa continua acontecendo. Durante a conversa com meu amigo, chegamos a uma conclusão: ao invés de lutar contra nossa esquisitice e tentar nos encaixar à força, por que não simplesmente abraçá-la? Por que não aceitar que somos diferentes e que isso está tudo bem?
Quando digo “esquisitos”, me refiro às pessoas que não se encaixam no padrão esperado. Não somos super extrovertidos, não temos prazer em estar em multidões, não sentimos necessidade de seguir o roteiro social tradicional. Nós gostamos de paz, de ficar em casa, de momentos tranquilos, de amizades poucas, mas verdadeiras. E o mais importante: somos felizes assim.
O grande desafio, no entanto, está em lidar com as nossas próprias distorções cognitivas. Aquela vozinha interna que insiste em dizer: “Você tem que se encaixar, tem que ser como os outros”. Mas será que temos mesmo? Será que essa cobrança toda não vem de uma sociedade que idolatra a conformidade e despreza a individualidade?
Curiosamente, a psicologia já estudou esse fenômeno. Existe um conceito chamado “necessidade de pertencimento”, descrito por Baumeister e Leary, que explica como os seres humanos possuem um impulso psicológico para formar e manter relacionamentos sociais significativos. No entanto, essa necessidade não significa que todos devem seguir o mesmo modelo de interação social. Estudos indicam que pessoas que aceitam sua autenticidade e encontram nichos compatíveis com sua personalidade tendem a ser mais satisfeitas e menos ansiosas do que aquelas que tentam se encaixar em padrões que não condizem com sua essência.
Nossa sociedade tem parte nessa necessidade de pertencimento, e muitas vezes, rejeita aquilo que não compreende. Um exemplo disso pode ser visto no filme Easy Rider, onde os protagonistas, que simbolizam a liberdade e a autenticidade, acabam sendo mortos simplesmente por representarem o “diferente”. A mensagem do filme é clara: ser autêntico nem sempre é fácil, e o mundo pode ser cruel com quem foge do padrão.
A verdade é que o mundo precisa de gente esquisita. Precisa de quem questiona, de quem trilha caminhos diferentes, de quem enxerga a vida de outra maneira. Precisa de quem se veste como quer, ouve as músicas que ama, e se rodeia apenas de pessoas que realmente o aceitam como é.
Então, se você se sente esquisito, abrace isso. Ser esquisito é ser autêntico. E ser autêntico é algo que pouca gente tem coragem de ser. No fim das contas, o que importa não é se encaixar num molde, mas sim viver de um jeito que faz sentido para você.