Como você sabe que está apaixonado? E o que é amor, afinal?

(Ou: Por que sua mente parece uma rave descontrolada quando você vê aquela pessoa)

Se você está lendo isso, há grandes chances de estar ou apaixonado(a), ou desconfiando de que está, ou querendo desesperadamente que alguém esteja — por você, de preferência.

Pois bem. Amor, segundo a psicologia científica, é mais complexo que tentar montar um guarda-roupa do IKEA sem manual (e com duas peças faltando). E apaixonar-se? Ah, apaixonar-se é tipo o botão de turbo que o cérebro aperta sem sua autorização — geralmente no momento menos apropriado, como quando você só queria comprar pão na padaria.

Primeiro: o que é esse caos bioquímico chamado “paixão”?

Imagine seu cérebro como uma central de comando razoavelmente funcional. Agora, imagine jogarem um balde de dopamina, noradrenalina e oxitocina lá dentro. É isso que acontece quando você se apaixona. A neurociência mostra que áreas associadas ao sistema de recompensa (a mesma que responde bem a chocolate, dinheiro ou vídeos de gatinhos) se iluminam como uma árvore de Natal.

Você pensa o tempo todo na pessoa. Não dorme, não come, ri de piadas ruins. Você não está louco: está limerente. Esse é o nome técnico inventado por uma psicóloga chamada Dorothy Tennov para esse estado de euforia, obsessão e idealização que, sinceramente, faria um unicórnio enjoar.

Mas isso não é o amor. Isso é o trailer. Amor mesmo é o filme inteiro — e ele envolve menos explosões e mais manutenção diária.

Tá, mas então o que é amor? Uma receita? Um Pokémon raro? Um glitch no sistema?

De acordo com o psicólogo Robert Sternberg (que provavelmente já sofreu por amor e resolveu estudar isso a fundo), o amor é um triângulo — o que já começa esquisito, né? Mas calma. Esse triângulo tem três lados:

  • Intimidade (não, não só a carnal. É aquela sensação de “posso tirar a armadura perto de você”).
  • Paixão (o calor, a química, o fogo no parquinho).
  • Compromisso (a parte onde você escolhe ficar mesmo quando o outro deixa a toalha molhada na cama pela 87ª vez).

O amor completo, aquele de filme bom (e não só comédia romântica), tem os três. Mas, sejamos realistas, a vida nem sempre entrega o combo. Às vezes, é só paixão com zero compromisso. Ou uma amizade profunda com zero faísca. Às vezes, é um relacionamento que continua mais por inércia do que por afeto — tipo aquele pacote de biscoito que você segue comendo só porque está aberto.

Mas como saber se o que eu sinto é amor ou só abstinência emocional?

Boa pergunta. Infelizmente, a resposta não vem com sinal luminoso. Mas a psicologia dá algumas pistas:

  • Você quer o bem da pessoa, mesmo que isso envolva abrir mão do controle da playlist.
  • Você admira quem a pessoa é, e não só como ela fica de roupa justa.
  • Você pode ser vulnerável sem medo de virar meme.
  • Há conversas difíceis, sim, mas elas terminam com entendimento (ou pizza).
  • Você escolhe continuar, mesmo nos dias sem glitter.

Spoiler: o amor não é um sentimento. É um verbo.

Essa parte os behavioristas adoram. Amor, para eles, é ação observável: ouvir, apoiar, respeitar, perdoar, fazer café sem pedir.

Então da próxima vez que você se perguntar se ama, não pense só no que você sente. Pense no que você faz. Amor é menos “frio na barriga” e mais “coloquei sua meia pra secar porque sei que você odeia ela molhada”.

E se eu ainda não entendi?

Bem-vindo ao clube. O amor não é uma equação simples. É mais como tentar decifrar instruções de um alienígena que usa sarcasmo como idioma. Mas é também a experiência mais extraordinariamente humana que temos.


Nota final (e científica):
Amor não é mágica. É construção. É vulnerabilidade, decisão e, sim, um pouco de sorte também. E se, por acaso, você se encontrar amando de verdade… trate isso como algo raro. Porque é. Num mundo que corre demais, amar com calma, intenção e presença é quase um ato revolucionário.

— Psicólogo Gustavo Henrique

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Gustavo Henrique

Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Gustavo Henrique | Psicólogo Clínico CRP 08/32842

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