Por que seu cérebro adora procrastinar (e como isso faz sentido no mundo dos seus ancestrais das cavernas)

Procrastinação: O Jeitinho Ancestral do Cérebro de Evitar Problemas Modernos

Por que seu cérebro adora procrastinar (e como isso faz sentido no mundo dos seus ancestrais das cavernas)

Você já se pegou adiando aquela tarefa importante pra fazer… nada? Tipo, você sabe que tem um prazo. Sabe que vai dar ruim. Mas, por algum motivo, seu corpo prefere arrumar a gaveta de meias, maratonar vídeos de gatos ou descobrir “como fazer pão” pela milésima vez. Bem-vindo ao clube! O cérebro humano tem uma queda, quase romântica, pela procrastinação. E, spoiler: a culpa não é só sua.


A culpa é do seu cérebro (ou melhor, da evolução dele)

Para começo de conversa, seu cérebro tem duas partes que não se entendem muito bem:

  1. O “eu quero agora” (sistema límbico) – É aquele lado que só quer saber de recompensa rápida, prazer imediato e que vibra quando o celular apita com uma notificação.
  2. O “pensa no futuro, por favor” (córtex pré-frontal) – É a parte racional que faz você planejar, ter metas e lembrar que pagar boletos é importante.

O problema? O sistema límbico é mais velho, tipo tiozão das cavernas. Ele manda em você há milhões de anos, enquanto o córtex pré-frontal é um estagiário recém-contratado. Então, quando surge um conflito entre “trabalhar no relatório” e “assistir Netflix comendo brigadeiro”, adivinha quem ganha?


Por que procrastinar fazia sentido para os ancestrais?

Pense no seu tataravô da Idade da Pedra. Ele não precisava entregar planilhas, mas tinha que sobreviver. Naquele contexto, era mais útil:

  • Poupar energia. Vai que aparece um tigre-dente-de-sabre? Ele não podia desperdiçar forças com coisas que não fossem essenciais.
  • Evitar o perigo. Tarefas desafiadoras (tipo caçar um mamute ou falar com o crush da caverna ao lado) podiam dar errado. Melhor adiar um pouco, né?

Hoje, em vez de um mamute, você enfrenta um relatório gigantesco. Em vez de um tigre, tem um chefe mandando e-mails de cobrança. O problema? Seu cérebro ainda age como se estivesse na selva, e tarefas chatas ativam o modo “fugir ou lutar” – só que, na maioria das vezes, a gente foge.


A química da procrastinação: o papel da dopamina

Ah, a dopamina… esse neurotransmissor bonitinho que faz você sentir prazer. Sempre que você faz algo legal – tipo rolar o feed do Instagram ou comer um chocolate – ela dá uma injeção de alegria no seu sistema. E, claro, tarefas difíceis e demoradas não são exatamente dopamina-friendly.

Resultado? Você se joga em qualquer distração que te dê uma dose instantânea de prazer, mesmo que isso signifique adiar o que realmente importa.


Mas tem jeito de enganar esse cérebro teimoso!

Agora que você sabe que procrastinação não é preguiça, mas um mecanismo de sobrevivência mal calibrado, vamos ver como hackear o sistema:

  1. Quebre a tarefa em partes.
    Seu cérebro odeia coisas grandes e assustadoras. Em vez de “escrever o TCC inteiro”, comece com “escrever o título”. Cada pequena vitória libera um tiquinho de dopamina e te deixa animado para continuar.
  2. Crie recompensas estratégicas.
    Fez 30 minutos da tarefa? Se dê 10 minutos para ver vídeos de gatinhos. Assim, o sistema límbico fica feliz, mas o trabalho anda.
  3. Construa barreiras para a distração.
    Bloqueie redes sociais, esconda o celular ou use fones de ouvido para se isolar. Se o sistema límbico não encontra estímulos fáceis, ele acaba cedendo.
  4. Lembre-se do longo prazo.
    Visualize o alívio e a satisfação de finalmente terminar a tarefa. Às vezes, só imaginar o futuro “você” sem estresse ajuda o córtex pré-frontal a assumir o volante.

Está tudo bem procrastinar (mas com moderação)

Procrastinar não te faz uma pessoa horrível ou fracassada. Na verdade, é só o cérebro tentando te proteger – de maneira meio desajeitada, claro. Mas agora você já sabe como ele funciona e pode enganar esse sistema ancestral.

Então, bora lá. Divida aquela tarefa chata em pedacinhos, dê umas migalhas de dopamina pro seu cérebro e comece. Prometo que vai doer menos do que parece. (E, quem sabe, no final ainda sobra tempo pra um pão quentinho!)

Este artigo foi escrito por:

Picture of Gustavo Henrique

Gustavo Henrique

Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

Ler todos os artigos
Picture of Gustavo Henrique

Gustavo Henrique

Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

Ler todos os artigos

Gustavo Henrique | Psicólogo Clínico CRP 08/32842

Av. Gov. Parigot de Souza, 480 – Zona 01, Maringá – PR
CEP: 87013-300

Proibida a Reprodução Total ou Parcial deste Site.
© 2024 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.