Resiliência, Gratidão e o Legado Inquebrável de Uma Vida

A Mulher que Transformou a Dor em Força: Uma Homenagem à Minha Avó

Recentemente, uma das pessoas mais fortes que já conheci faleceu. Seu nome era Maria Zequim Ferreira, mais conhecida como vó Maria. Durante o velório, uma das coisas que mais passava pela minha cabeça era o quanto eu era grato por ter vivido tantos bons momentos com ela. Acredito que o melhor sentimento que podemos carregar nessas situações é o de dever cumprido. É claro, a saudade permanece, e ver as pessoas que ficaram sofrendo é o que mais dói. Mas, ao mesmo tempo, é bonito perceber o impacto positivo que ela teve na vida de todos ao seu redor.

E é sobre isso que quero falar: sobre a influência dela. Minha avó enterrou dois filhos, teve uma vida cheia de dificuldades e poucos luxos. Apesar das dores e dos desafios, nunca vi minha avó desanimar ou desistir. Pelo contrário: quando eu e meus primos tínhamos uma banda, ela fazia questão de estar presente em todos os shows, até mesmo aqueles em outras cidades e que terminavam tarde da noite. Ela e meu avô estavam lá, juntos, como nossos maiores apoiadores.

Só por essas poucas histórias, é evidente que minha avó era uma mulher forte. Mas, quando digo forte, o que exatamente quero dizer? É aqui que entra o conceito de resiliência, tão estudado pela psicologia.

Resiliência é a capacidade de enfrentar adversidades, adaptando-se e, muitas vezes, crescendo com elas. Não se trata de não sentir dor, mas de continuar em movimento, apesar dela. Na psicologia, sabemos que fatores como apoio social, propósito de vida e habilidades de enfrentamento têm um papel essencial para desenvolver essa habilidade. E minha vó Maria era a personificação disso: mesmo com uma vida marcada por perdas e desafios, ela encontrou formas de manter a alegria, apoiar os outros e estar presente.

Essa resiliência não é algo que nasce do nada. É construída ao longo da vida, em pequenas e grandes ações. Minha avó nos ensinou, pelo exemplo, que a força verdadeira não está em nunca cair, mas em levantar quantas vezes forem necessárias – e ainda estender a mão para ajudar os outros a se levantarem.

Hoje, ao olhar para trás, vejo o quanto sua vida foi um modelo de superação e amor. O impacto dela não ficou apenas em palavras, mas em atitudes, valores e momentos que todos nós levaremos para sempre. E, mesmo na saudade, ela deixa uma lição clara: a de que a força não está em viver sem dificuldades, mas em encontrar significado e amor em meio a elas.

E é exatamente isso que torna sua história tão marcante. Minha avó não apenas enfrentou as adversidades com coragem, mas transformou cada desafio em uma oportunidade de ensinar algo para nós, seja por meio de seus gestos ou de sua presença constante. Essa resiliência que ela viveu e demonstrou nos deixou um legado que vai muito além da saudade: deixou-nos lições sobre como enxergar a vida e enfrentar nossos próprios desafios.

Essas lições se tornaram ainda mais claras para mim nos momentos em que a saudade aperta. E foi nesse processo de revisitar memórias e refletir sobre a sua vida que descobri a força de outro sentimento poderoso: a gratidão.

Ao pensar sobre a força da minha avó e tudo o que ela representou, percebo que um dos sentimentos mais fortes que ficou foi a gratidão. É curioso como, em meio à dor da perda, esse sentimento se tornou uma âncora, me ajudando a atravessar o luto de forma mais leve e significativa.

A gratidão, segundo a psicologia, é mais do que um simples “obrigado”. É um estado emocional que surge quando reconhecemos algo de valor em nossas vidas que não veio apenas de nós mesmos. Estudos mostram que pessoas que praticam a gratidão frequentemente experimentam maior bem-estar emocional, menos sintomas depressivos e até mesmo melhores relações sociais. A gratidão não apaga a dor, mas nos ajuda a redirecionar o foco para o que foi vivido de bom, mesmo em situações difíceis.

E foi exatamente isso que aconteceu comigo. Sempre que sinto a saudade apertar, penso nos momentos incríveis que vivi ao lado da minha vó Maria. Penso no som da risada dela, na força com que ela segurava nossas mãos, e na forma como ela fazia questão de estar presente em nossas vidas – até mesmo nos nossos shows, mesmo que isso significasse enfrentar viagens longas e noites mal dormidas. Esses pensamentos me fazem sorrir, mesmo em meio às lágrimas. É como se, ao me conectar com essas memórias, eu mantivesse viva uma parte dela dentro de mim.

Além disso, a gratidão me ajudou a transformar a dor da perda em uma celebração da vida. Percebo que tudo o que ela me ensinou – sua força, sua resiliência e sua capacidade de amar – continua comigo. E, por mais que eu deseje ter tido mais tempo ao lado dela, sou profundamente grato pelo tempo que tivemos. Esse sentimento, para mim, é um antídoto contra o vazio que o luto pode trazer.

Ao escrever isso, espero que você, que está lendo, também possa encontrar gratidão em suas próprias histórias. Não é fácil lidar com a perda, mas lembrar-se do que foi vivido, dos momentos que nos marcaram e das pessoas que nos transformaram pode nos ajudar a atravessar esse caminho com mais leveza. No fim, a gratidão não é só um tributo a quem partiu – é também uma forma de nos reconectar com o que há de mais valioso em nossas vidas.

Minha avó, com sua força e resiliência, não apenas viveu, mas nos ensinou a viver. Em cada momento compartilhado, ela plantou sementes de amor, coragem e gratidão que agora florescem em cada um de nós. Sua presença física pode ter partido, mas seu impacto continua – nas memórias, nos valores que ela deixou e na forma como ela nos ensinou a encontrar significado, mesmo nas situações mais difíceis.

E, enquanto reflito sobre tudo isso, lembro de uma frase do filósofo estoico Sêneca que parece traduzir sua essência: “Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir, mas, para quem sabe, todos os ventos são favoráveis.” Minha avó sabia exatamente para onde queria ir – e, com sua sabedoria, mostrou a todos nós como navegar pelas tempestades da vida com propósito e coragem.

Que possamos honrá-la não apenas na lembrança, mas na maneira como escolhemos viver.

Este artigo foi escrito por:

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Gustavo Henrique

Prazer, sou Gustavo Henrique, psicólogo clínico com mais de 4 anos de experiência. Minha jornada na faculdade começou com um interesse crescente por uma psicologia mais científica. Fiz minha primeira pós-graduação em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC) e, em seguida, concluí uma pós em Terapia Cognitiva Comportamental pela PUCRS. Trabalhei como psicólogo hospitalar e, posteriormente, em uma comunidade terapêutica. Além disso, atuei como supervisor em terapia ABA com crianças autistas. Atualmente, concentro meus estudos e práticas nas áreas de neurociência e psicologia baseada em evidências, e sou membro da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidência.

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Gustavo Henrique | Psicólogo Clínico CRP 08/32842

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