Spoiler: nem todo mundo precisa ser o Einstein aos 25.
Vivemos uma era em que abrir o Instagram é quase como abrir um relatório de “fracassos comparativos”. Todo mundo parece ter uma casa própria, um abdômen definido, um gato fotogênico e uma startup de sucesso — e tudo isso antes dos 30. Aí você olha pro seu café frio e pensa: “acho que tô atrasado na vida.”
Mas calma lá. A ciência tem algo a dizer sobre isso (e spoiler: ela está do seu lado).
Segundo a Teoria da Comparação Social, de Festinger (1954), nós tendemos a avaliar nosso valor pessoal comparando-nos aos outros. O problema é que, nas redes sociais, essa comparação é distorcida: estamos nos comparando com o melhor recorte da vida alheia — e o pior da nossa. É como comparar o making of da sua vida com o trailer editado de alguém.
Além disso, pesquisas mostram que o sentimento de estar “ficando pra trás” está associado a níveis maiores de estresse, ansiedade e depressão (Vogel et al., 2014). Nosso cérebro social não foi feito pra processar centenas de “vidas perfeitas” por dia. Ele só quer saber se o grupo te aceitaria na fogueira tribal — e spoiler: aceitaria sim, mesmo se você ainda mora de aluguel e esquece o aniversário das plantas.
Agora, aqui vai o ponto mais importante: o desenvolvimento humano não é linear. Estudos em psicologia do ciclo vital (Baltes, 1987) mostram que cada fase da vida tem ganhos e perdas, e que as pessoas atingem picos de realização em momentos muito diferentes. Há quem descubra sua vocação aos 18, e há quem encontre propósito aos 50 — e ambos estão “no tempo certo”, porque o tempo certo é aquele em que você está vivo e aprendendo.
Então, da próxima vez que o algoritmo tentar te convencer de que você está atrasado, lembra: não existe “atraso” no processo humano. Existe história, contexto e ritmo próprio. O sucesso não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona com paradas estratégicas pra café, terapia e autocompaixão.
E se nada disso te convencer, lembra que o Freud publicou A Interpretação dos Sonhos aos 43 anos. Então relaxa: talvez seu grande momento ainda esteja tirando um cochilo no inconsciente. 😴
Gustavo Henrique
Psicólogo Clínico | Psicologia Baseada em Evidências
Referências
- BALTES, P. B. Theoretical propositions of life-span developmental psychology: On the dynamics between growth and decline. Developmental Psychology, v. 23, n. 5, p. 611–626, 1987.
- FESTINGER, L. A theory of social comparison processes. Human Relations, v. 7, n. 2, p. 117–140, 1954.
- VOGEL, E. A. et al. Social comparison, social media, and self-esteem. Psychology of Popular Media Culture, v. 3, n. 4, p. 206–222, 2014.